– Quero que entre no colégio militar, Eduardo. Faça-se homem, rapaz! – gritou o pai.
No final de semana, Eduardo chegou a casa, acompanhado por um amigo fardado.
– Este é o Pedrão, cadete
do Exército – disse, enquanto se esparramava numa poltrona da sala.
O pai ficou feliz de ver que o filho tinha bons amigos e quis saber mais da vida militar.
– Quero que meu filho
também entre para o Exército e se faça homem.
– Eu entrei para o
serviço militar – falou o rapaz com voz aguda- mas não me fiz homem não, bofe...
Na realidade, eu gosto de ser assim, uma mulherzinha corajosa.
– O pai tirou os óculos,
desceu o jornal sobre os joelhos... e ficou olhando-o sem compreender.
– Que... que... que quer dizer?
– O que quero dizer,
senhor, é que eu entrei para o Exército porque adoro homens de uniformes,
homens fortes... e me considero uma mulher... uma mulher corajosa... e gosto de ser chamada de Brigitte
Coitado
do Sr. Jorge, sempre tão controlado... Perdeu o auto-controle. Irritado,
gritou: - Você é uma vergonha para o Exército.
- Fora de minha casa, rapaz!
- Fora de minha casa, rapaz!
– Posso
processar o senhor pelo preconceito contra...
–
Fora, fora – gritou o Sr. Jorge sem deixar o Pedrão terminar a frase.
Uma hora mais tarde. No bar, em frente à praça, encontraram-se os amigos.
–
Aqui está o prometido, disse Eduardo colocando algumas notas sobre a mesa.
Obrigado, Pedrão, você inventou uma história e tanto, como tínhamos combinado.
Pedrão
sorriu - Essas aulas de teatro já renderam seu fruto. Mereço um Oscar, não
mereço? – pergunta, olhando uma moça loira de saia curtinha que entrava
rebolando.
–
Merece, gritou Eduardo. O velho é preconceituoso. Isso é ruim. Mas o bom
é que agora não quer mais mandar-me para o Exército...
Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de "O livro do Escritor".
Nenhum comentário:
Postar um comentário