sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SERVIÇO MILITAR (Crônica)



–  Quero que entre no colégio militar, Eduardo. Faça-se homem, rapaz! – gritou o pai. 

No final de semana, Eduardo chegou a casa, acompanhado por um amigo fardado.
– Este é o Pedrão, cadete do Exército – disse, enquanto se esparramava numa poltrona da sala.

O pai ficou feliz de ver que o filho tinha bons amigos e quis saber mais da vida militar.
– Quero que meu filho também entre para o Exército e se faça homem.
– Eu entrei para o serviço militar – falou o rapaz com voz aguda- mas não me fiz homem não, bofe... Na realidade, eu gosto de ser assim, uma mulherzinha corajosa.
– O pai tirou os óculos, desceu o jornal sobre os joelhos... e ficou olhando-o sem compreender.
        – Que... que... que quer dizer?
– O que quero dizer, senhor, é que eu entrei para o Exército porque adoro homens de uniformes, homens fortes... e me considero uma mulher... uma mulher corajosa...  e gosto de ser chamada de Brigitte

Coitado do Sr. Jorge, sempre tão controlado... Perdeu o auto-controle. Irritado, gritou: - Você é uma vergonha para o Exército. 
- Fora de minha casa, rapaz!
– Posso processar o senhor pelo preconceito contra...
– Fora, fora – gritou o Sr. Jorge sem deixar o Pedrão terminar a frase.

Uma hora mais tarde. No bar, em frente à praça, encontraram-se os amigos.
– Aqui está o prometido, disse Eduardo colocando algumas notas sobre a mesa. Obrigado, Pedrão, você inventou uma história e tanto, como tínhamos combinado.

Pedrão sorriu - Essas aulas de teatro já renderam seu fruto. Mereço um Oscar, não mereço? – pergunta, olhando uma moça loira de saia curtinha que entrava rebolando.
   Merece, gritou Eduardo. O velho é preconceituoso. Isso é ruim. Mas o bom é que agora não quer mais mandar-me para o Exército...
Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de "O livro do Escritor".

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