quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A OFENSA (Crônica)


Seu Geraldo voltava para casa depois de um dia de trabalho. Ao chegar à esquina, um carro o fechou. Geraldo colocou o pé no freio, o outro continuou e estacionou na porta da casa do vizinho. Ele sabia que o carro não era do vizinho, e para mostrar seu desgosto pelo fato, estacionou na frente do outro carro, desceu e aproximou-se dele. Não conseguiu ver o motorista pelo vidro escuro, mas assim mesmo gritou: “Palhaço, fechar-me numa rua tranquila como esta, você só pode ser um palhaço. Palhaço mesmo”!

Abriu-se a porta do carro e saíram dois homens  com sapatos enormes, roupas coloridas, narizes redondas de plástico, rostos pintados de branco e perucas azuis. Um deles disse:  “Desculpe-me eu sei que errei, estava nervoso com o horário, mas não precisa me ofender. Ser palhaço é meu ganha-pão e é um trabalho honesto”.

Só nesse momento, Geraldo reparou que havia festa na casa do vizinho. O menino saiu à porta e gritou contente: “Mamãe, chegaram os palhaços, chegaram”!

Geraldo, acanhado, disse: “Bom trabalho, senhores”.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

MUDANÇA DE PERSPECTIVA


Em literatura há uma técnica chamada “mudança de perspectiva”. Os personagens falam, ou pensam, ou algo acontece, e o leitor descobre uma nova perspectiva de um assunto. É muito interessante descobrir que isso é simplesmente uma maneira de levar a visão do homem para o universo literário. Muitas vezes nossa perspectiva sobre um assunto muda ao conhecer algum fato, ou descobrimos que sustentávamos uma visão errada sobre uma pessoa.

Lamentavelmente o ser humano não tem raio-x para ver os pensamentos dos outros. Somos facilmente enganados pelas aparências. Um rosto bondoso pode ser na realidade uma máscara para não despertar suspeitas. O sorriso pode esconder raiva ou ressentimento. O olhar doce pode não ser espontâneo, pode ser resultado de algum curso de teatro. A elegância nas palavras, às vezes, nasce da artimanha de seduzir os outros. Além disso, temos os chamados “sintagmas significativos”, ou seja, palavras ou frases que podem ser usadas com a finalidade de manipular os outros.

Em um mundo no qual a imagem impera, nunca sabemos se quando alguém fala de seu passado está revelando uma verdade escondida, ou está criando uma imagem para ser aceito, amado ou aplaudido. Só conseguimos ver a cor da pele, dos olhos, dos cabelos, não conseguimos saber quais são as intenções das pessoas.
E, como nada é tão horrível ao mundo contemporâneo quanto à honestidade, usamos máscaras. Se as coisas continuarem desse jeito, corremos o perigo de chegar em casa depois de uma festa na qual mentimos – desculpem, fomos gentis e dissemos que os doces dos quais não gostamos eram maravilhosos, excelente o livro recém lançado por algum autor que desprezamos em silêncio, além de elogiar o horrível vestido da anfitriã, chegar em casa e caminhar até o espelho para tirar a máscara e descobrir que sob essa máscara há outra. Tirar a segunda máscara e descobrir mais uma... Ao final, quem poderá dizer que conhece o seu rosto autêntico?

Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews em maio/12.

sábado, 25 de agosto de 2012

Exposição e livro sobre SILÊNCIOS...


EXPOSIÇÃO: "SILÊNCIOS DO HOMEM E DA NATUREZA"
No evento a poeta premiada Isabel Furini autografará seu livro “,,, E OUTROS SILÊNCIOS”.

Vernissage em 12 de setembro, 18h 30m, no 5º andar do Shopping Estação.

Artistas:
Alexandre Bozza, Ana Serafin, Celia Dunker, Carlos Roberto Ramos Litzinger, Carlos Zemek, Di Magalhaes, Dirce Polli Bittencourt,  Katia Kimieck, Katia Velo, Kim Molinero, Ninon Braga, Regina Ticoski, Rogério Bittencourt, Sandoval Tibúrcio, Vanice Ferreira.

No evento a poeta premiada Isabel Furini autografará seu livro “,,, E OUTROS SILÊNCIOS”.

CURADORIA: Carlos Zemek.


O mundo moderno está dominado pela palavra e pela imagem. É um mundo no qual imperam os sentidos. A palavra constrói e destrói, a imagem seduz ou causa repulsa.  Na internet, na televisão, na mídia em geral, imperam os discursos e as formas. E o mundo globalizado corre, emociona-se, agita-se obedecendo a imagens e palavras.
Para o homem ocidental parece impossível interromper o fluxo do pensamento, o caminho dos sentidos que agitam emoções e ideias, por isso, no conceito do curador Carlos Zemek  a exposição “Silêncios do homem e da natureza”, tem como objetivo convidar para uma pausa na interpretação dos códigos que ligam o ser humano ao mundo. Fazer um silêncio, e perceber outros aspectos da realidade. O silêncio através da arte. O silêncio como pausa que pode criar um impulso para uma nova direção. O silêncio como gesto capaz de realinhar as forças subjetivas que mexem o homem.

Estação Business School - Av. Sete de Setembro, 2775, 5º Andar, Curitiba – Paraná.

No 5º andar, do prédio Shopping Estação.


Os artistas plásticos Vanice Ferreira e Carlos Zemek (autor do quadro "Formas da Vida").

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SERVIÇO MILITAR (Crônica)



–  Quero que entre no colégio militar, Eduardo. Faça-se homem, rapaz! – gritou o pai. 

No final de semana, Eduardo chegou a casa, acompanhado por um amigo fardado.
– Este é o Pedrão, cadete do Exército – disse, enquanto se esparramava numa poltrona da sala.

O pai ficou feliz de ver que o filho tinha bons amigos e quis saber mais da vida militar.
– Quero que meu filho também entre para o Exército e se faça homem.
– Eu entrei para o serviço militar – falou o rapaz com voz aguda- mas não me fiz homem não, bofe... Na realidade, eu gosto de ser assim, uma mulherzinha corajosa.
– O pai tirou os óculos, desceu o jornal sobre os joelhos... e ficou olhando-o sem compreender.
        – Que... que... que quer dizer?
– O que quero dizer, senhor, é que eu entrei para o Exército porque adoro homens de uniformes, homens fortes... e me considero uma mulher... uma mulher corajosa...  e gosto de ser chamada de Brigitte

Coitado do Sr. Jorge, sempre tão controlado... Perdeu o auto-controle. Irritado, gritou: - Você é uma vergonha para o Exército. 
- Fora de minha casa, rapaz!
– Posso processar o senhor pelo preconceito contra...
– Fora, fora – gritou o Sr. Jorge sem deixar o Pedrão terminar a frase.

Uma hora mais tarde. No bar, em frente à praça, encontraram-se os amigos.
– Aqui está o prometido, disse Eduardo colocando algumas notas sobre a mesa. Obrigado, Pedrão, você inventou uma história e tanto, como tínhamos combinado.

Pedrão sorriu - Essas aulas de teatro já renderam seu fruto. Mereço um Oscar, não mereço? – pergunta, olhando uma moça loira de saia curtinha que entrava rebolando.
   Merece, gritou Eduardo. O velho é preconceituoso. Isso é ruim. Mas o bom é que agora não quer mais mandar-me para o Exército...
Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de "O livro do Escritor".

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

CURRÍCULO DE MÃE OU CURRICULUM PROFISSIONAL? (Crônica)


Essa é uma dúvida que carrego há tempo. É algo que chama minha atenção e que me deixa com uma pergunta entre os lábios: Por quê?

Estou me referindo ao fato de ter observado em currículos para livros, palestras, cursos, e outros, que as mulheres misturam os dados pessoais e os dados profissionais. Percebi ao longo dos anos que algumas mulheres colocam frases como: esposa e mãe, ou avó do Dieguinho e da Mariazinha.

Nunca vi um currículo profissional masculino dizendo: sou esposo e pai, ou sou avô do Dieguinho e da Mariazinha. Parece que enquanto os homens se orgulham do fato de serem altamente profissionais, as mulheres querem comover dizendo que são esposas, mães ou avós. Um psicólogo amigo disse-me que isso é manipulação. Um intento de tocar o coração dos outros. Segundo ele, essas mulheres têm medo de não ser suficientemente boas na área escolhida. Escrever no currículo profissional “sou esposa e mãe”, ou “sou avó” seria uma forma de apelo emocional.

Isso me faz lembrar uma tira cômica da Mafalda do cartunista Quino. Susaninha, a amiga esnobe da Mafalda, e outro menino vão começar a jogar xadrez. Susaninha está sentada com uma boneca nos braços, olha para o menino e grita: Você não vai se atrever a derrotar uma mãe, vai?

Na minha opinião, e posso estar errada, se uma mulher coloca no currículo profissional que é esposa e mãe, não acrescenta nenhum dado importante para o trabalho que desempenha (sempre que o trabalho não for cuidar de crianças ou afins). Além disso, sejamos honestos, depois dos 30 anos, o mais comum é que as mulheres sejam esposas e mães, como os homens, esposos e pais. Depois dos 60 anos, o mais comum é que as mulheres sejam avós.

Durante tanto tempo as mulheres lutaram para ter um lugar ao sol. Lutaram e ainda lutam para serem profissionalmente reconhecidas, por que, então, ao escrever um currículo, não respeitar os limites entre a vida familiar e a vida profissional? Essa é uma pergunta que não quer calar.

Isabel Furini é escritora, poeta premiada e palestrante. Autora de “O livro do escritor” da Editora Instituto Memória. Orienta oficina para futuros escritores no Solar do Rosário, fone (41) 3225-6232.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

TANGO – “el gato maula y el mísero ratón”…(crônica)



No sábado, minha amiga Giovanna ligou. Uma amiga dela, da época de faculdade, que morava no interior, estava de visita e podíamos almoçar juntas, ir ao shopping e ao cinema.  Quase ao meio-dia nos encontramos no shopping e a amiga de minha amiga começou pegando “duro” já no início de conversa.

-Você é de Buenos Aires? Eu gostaria tanto de conhecer essa cidade, mas nunca se sabe se um argentino é confiável.

Depois de uma primeira frase pouco simpática, eu sabia que a mulher não era flor que se cheira. Caminhamos pelo shopping e entramos numa loja. A mulher fez piadas grosseiras com a atendente. Disse que precisava ver como a blusa ficava e obrigou-a a experimentá-la sobre a roupa, tudo com muito riso e algazarra, ou seja, fez aquele barraco que curitibano odeia mesmo!

Fomos almoçar e ela implicou com a garçonete, realmente eu nem lembro o porquê, parece que a moça tinha acento gaúcho. Depois perguntou: – Tem vinho argentino? Mas não traga para mim, porque os vinhos de lá são uma porcaria. Olhou-me e inquiriu: – Por que os vinhos chilenos são melhores? Respondi que não sabia, que podia ser o tipo de uva. Ela retrucou: – Na Argentina tudo é ruim, até o solo!

Terminamos de almoçar e entramos no cinema. Por sorte, foram duas horas de filme. Ao sair Giovanna me deu carona. Então veio o assunto da morcela: – Na Argentina comem morcela? – perguntou e eu já sabia que vinha alguma frase agressiva.  Alguns comem, eu gosto da morcela de lá porque é muito bem temperada e fortalece contra anemia. Mexeu-se no banco do carro e quase gritou: – Nheca! Morcela é horrível!
– Você come carne de porco? Come peixe? – perguntei.
- Sim. – respondeu.
- Pois alguns povos não comem porco, e em alguns países africanos não se come peixe, mas é por motivo religioso, e isso deve ser respeitado. Mas você não gosta da morcela porque é simplesmente preconceituosa.

 – Eu, preconceituosa?!!!
  -  Sim, muito preconceituosa!  – gritei com raiva.

Ficou em silêncio. Porfim, silêncio!!! Graças a Deus a matraca calou, pensei.  Ao despedirmos, ela disse que seu sonho é visitar Buenos Aires.

Pensei sobre o porquê da atitude dessa pessoa. Lembrei-me de um tango que diz: “Como juega el gato maula con el mísero ratón”. (Como brinca o gato covarde com o mísero rato). Esse é o princípio do bullying. Só que eu não sou gato, nem sou rato, minha atitude é mais parecida com a de cachorro que rosna. Ao final, penso que não temos por que suportar tanta agressividade disfarçada de diversão. Eu prefiro o lema: Viva e deixe viver, muito bem sintetizado numa dedicatória que li num livro de Leslie Cameron-Bandler: “Agradeço a meus pais que me ensinaram a ficar de pé, sem necessidade de pisar no pé dos outros”.

 * Isabel Furini é escritora e palestrante. Autora de “O livro do Escritor” da editora Instituto Memória.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

NARIGUDO E ESTUPRADOR? (Crônica)


Eu tinha 17 ou 18 anos quando decidi fazer um curso de datilografia – ainda era a época da máquina de escrever. Procurei um lugar perto da minha casa. Ficava a seis quadras e havia que passar por uma fábrica com um longo paredão. O lugar assustava um pouco.

Ao me inscrever a professora disse que tinha poucas máquinas e no momento só tinha livre o horário das 8:00 às 9:00, mas qualquer vaga que abrisse para as 10 ou 11 horas ela a reservaria para mim. Eu aceitei.
Minha rotina de terças e quintas era acordar, tomar banho, um café rápido e correr para o instituto de datilografia. Saia de casa as 7 horas 45m., pois gostava de chegar cedo e pegar a melhor máquina. Era inverno, amanhecia  com o céu de cor cinza escuro. Nesse horário ainda as lojas não haviam aberto e havia poucas pessoas na rua.

Esse fato intranquilizava minha mãe, especialmente porque havia sido noticiado pela televisão que um estuprador que atacava mulheres jovens e bonitas (ele é estuprador, mas não é bobo, tem bom gosto, brincavam as pessoas). Pois bem, qualquer mãe acha os seus filhos bonitos. E a minha não era diferente. 
Os vizinhos só falavam do estuprador, especialmente, porque uma moça de um bairro perto havia sido atacada por ele com uma faca, mas conseguira escapar graças a um casal que estava na rua e correu para ajudá-la. Ela disse que o homem tinha uma parte do rosto coberto  por uma echarpe preta, e era narigudo.
-Cuide-se! Ordenava a minha mãe quando eu saia de casa. - Fique de olho, de vez em quando vire-se para observar se não está sendo seguida por alguém.

Eu caminhava pela rua olhando aos lados, às vezes, virando a cabeça, e se alguém se aproximava atravessava a rua. Até que uma manhã muito escura, o céu cinza ameaçando chuva, eu caminhava atenta ao lado do paredão da fábrica quando vi de supetão  um homem virando a esquina. Ele vinha na minha direção. Percebi imediatamente a echarpe preta cobrindo-lhe a boca. E o nariz enorme!  Meu coração pulou do peito. Minhas pernas tremiam. Olhei para atravessar a rua, mas vinham carros a alta velocidade. Eu fiquei parada sem saber o que fazer. O homem se aproximava rapidamente. Quando estava a poucos passos de mim colocou a mão no bolso do paletó. A imagem de uma faca se formou na minha mente. Soltei um grito e pulei da calçada para a rua ficando ao lado do meio-fio . O homem, calmamente, tirou um lenço do bolso e assou o enorme nariz.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de “O livro do escritor”. Orienta oficinas para pessoas que desejam escrever livros de contos, crônicas e romance no Solar do Rosário (41) 3225-6232.

sábado, 11 de agosto de 2012

PAI “ASSASSINA” LAPTOP DA FILHA (crônica)



NOTÍCIA: Pai de adolescente norte-americana dá nove tiros no laptop dela por 'malcriação' pelo Facebook.


No início do vídeo podemos ver que, além do enorme chapéu, ele está fumando (bom exemplo para os filhos), e tomado de violência porque foi denunciado no Facebook, segundo ele, injustamente, dá nove tiros no laptop. Não duvidamos de que deva ter assustado a moça. Talvez uma advertência velada, a próxima vez vai na tua cabeça, filha. E ainda a maioria das pessoas “curtiu” e aplaudiu esse fato bizarro, essa prepotência do pai, essa violência desnecessária.
Talvez a menina mentiu ao dizer que foi obrigada pelo pai e pela madrasta a realizar tarefas pesadas na casa, pois, segundo o pai, ela só arruma a própria cama e lava a própria roupa. Não sabemos quem está mentindo, ainda que filhos de pais violentos tenham tendência a mentir, a fantasiar. Não sabemos se a menina é bem tratada nessa casa, nem se o pai é capaz de dialogar com a filha. Só sabemos que as pessoas estão cansadas e estressadas, de “pavio curto”. Só a neurose coletiva pode aplaudir para um pai neurótico que atira no laptop da filha.
E essa admiração pela violência é comum, afinal os filmes e as séries de TV criam ídolos violentos, homens que, em vez de falar, socam e espancam.
É só guardar o laptop, dizer que ela não usará até melhorar a sua conduta. Essa violência do pai não estará revelando uma violência maior? E por que precisa gravar um vídeo?  Nada disso é normal. O assunto é bizarro. Uma filha que talvez esteja mentindo e um pai punitivo. E a maioria aplaude um pai que atira no laptop. Esperemos que seja só no laptop, porque os Estados Unidos é recordista em atiradores malucos.
Só podemos agradecer a Deus por não ter um cretino desses como pai, nem vizinho que se comporta desse jeito. Eu não ficaria tranquila se soubesse que meu vizinho atirou no laptop da filha. Essa demonstração de força não estará revelando de outras violências? Será que os dois, pai e filha, não precisam de terapia? Ambos deveriam visitar um psicólogo e ver se dá para se entender fora da mídia. E sem armas.
Isabel Furini é escritor, poeta premiada e palestrante. Orienta a Oficina “Como Escrever Livros” no Solar do Rosário (41) 3225-6232.

O DINHEIRO NÃO TRAZ A FELICIDADE?


É muito interessante perceber que a maioria de nós muitas vezes fala frases impensadamente. Temos frases comuns que nos levam por caminhos que não pensamos, é comum dizer “matou por amor”, “o amor domina o mundo”, “ a honestidade é a melhor política”, “dinheiro não traz a felicidade” e outras.
Lamentavelmente nenhuma dessas afirmações resiste ao pente fino. Quando filtramos essas frases vemos que não se adaptam à realidade. A primeira já foi discutida por psicólogos. Ninguém mata por amor, em geral, quando uma pessoa ciumenta mata a sua namorada, ou namorado, falamos “matou por amor”, mas a causa não é o amor, é o ciúme.

Outra frase que leva a discussões é dizer que “o amor domina o mundo”. Será? No mundo, seja empresarial, social, político, quem domina é o jogo (ou joguinho) de poder. Um quer mostrar que é superior ao outro, ou um quer dominar o outro ou usar o outro como degrau para subir mais alto. Existe amor nas relações internacionais? Entre sérvios e bósnios?  Entre árabes e judeus? Entre ateus e crentes? Entre ricos e pobres? Os Estados Unidos “ama” e protege os países subdesenvolvidos ou aproveita para sugar as riquezas naturais? Às vezes é difícil entender o porquê dessa frase romântica: o amor domina o mundo. Se o amor dominasse mesmo, este mundo seria quase um paraíso.

Eu também pensei durante muito tempo que a honestidade era a melhor política – e como criei inimigos por essa minha compulsão à honestidade. Uma vez uma aluna me disse que em uma festa um bêbado brindou à memória do pai morto fazia pouco tempo e disse: “Obrigado, papai, graças a você eu sou bom. Obrigado, papai, graças a você eu sou autêntico. Obrigado, papai, graças a você eu sou honesto, muito honesto. Obrigado, papai, graças a você eu sou pobre...”.

E sobre o “dinheiro não traz a felicidade”, ele sozinho não traz felicidade, não, mas sem ele ninguém é feliz. Se você precisar ir a um médico, a um dentista, viajar, comprar uma casa, ir ao teatro, comprar um livro, de um computador e não tiver dinheiro, imediatamente pensará que o dinheiro não é tudo, mas que ajuda muito. É uma das condições para ser feliz. Como disse aquele piadista, “não é que eu goste do dinheiro, é que ele me acalma os nervos”.

Mas essas frases feitas as pessoas repetem, até fica bonito dizer que o “dinheiro não traz a felicidade”, ou que o “amor domina o mundo”. Um amigo que gosta de luzir-se dizendo que seus filhos só usam tênis das melhores marcas, que custam em torno de R$ 1.000,00, que vão às melhores escolas e fazem esporte em bons clubes, etc., fecha sua fala dizendo: o dinheiro não traz a felicidade. Em uma reunião um rapaz exclamou: “A quem quer enganar, seu mané?”.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Interação - Exposição de Artes Plásticas




INTERAÇÃO 
EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS

A exposição interação que é mais uma proposta do grupo 100 fronteiras com o objetivo de fortalecer a produção e apresentação artística, estimular a reflexão e o pensamento crítico.
A cada apresentação o diálogo surge como um novo fôlego para as Artes visuais movimentando o setor fazendo ressurgir antigas ideias entrelaçadas com novas ações.

Artistas plásticos.
Adalberto, Adão Mestriner, Alexandre Bozza, Alvaro Azzan, Alvaro Doudek, Ana Kath, Ana Nisio, Carlos Zamek, Celia Dunker, Clarice Barbosa, Cleonice Sl Kozievitcch, Cristina Daher, Daacruz, Di Magalhães, Dina de Sousa, Dirce Polli, Doniê, Edilma Rocha, Elisabeth Lopes, Evanir Plaszewski, Félix Wojciechowski, Glaura Barbosa Pinto, Hector Consani, Ivani da silva, Ivone Rabelo, João Abreu, Katia Velo, Kim Molinero, Kronland, Lisete Steinstrasser, Maris Trevisan, Miquelina Ribeiro, Neiva Passuello, Ninon Braga, Noemi Cavanha, R. Lima, Rafael Rocha, Regina Tiscoski, Renato Pratini, Rita M. Lessa, Rogerio Bin, Rosalia Valente dos Santos, Rosangela Scheithauer, Sandoval Tiurcio, Teresa Martins, Ubiratan Lima, Vanice Ferreira, Vera Garcia, Vera M. P. de Freitas, Vildete Pesssutto.

Participação especial.
Amilcar Fernandes da Silva. Escritor/poeta
Emílio Boschilia. Artista gráfico/Pintor/fotografo.
As fotos de Emílio Boschila retratam a vida e a paisagem da pequena vila, localizada na fronteira entre Portugal e Espanha.

Escritores
Isabel Furini, Renato Pratini, Sandoval Tiburcio/Romancista e Vanice Ferreira.


ABERTURA: 10 de Agosto as 20hs

Visitação: 10 a 31 de Agosto


Local: Sociedade Portuguesa 1 de Dezembro,
Rua Pedro Ivo, 462, Centro, Curitiba , Paraná, Brasil


Curadoria: Jô Oliveira e Valderez Cachuba
Colaboração: Carlos Zemek

http://artessemfronteiras.blogspot.com/
artes100fronteiras@gmail.com

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

HUMMM..... (Crônica)


A mulher entrou no estudo do fotógrafo. Foram quase 50 minutos de virar a cabeça para um e outro
 lado, de sorrir e parar com os sorrisos, enquanto o fotógrafo enfocava a câmera, acendia e desligava luzes, 
se aproximava e se afastava. Por fim, o homem ficou satisfeito com seu trabalho.  Foi até o computador que 
estava em um canto da sala e mostrou, feliz, a fotografia artística.
- Veja a luz, senhora, ficou perfeita desse ângulo, e a textura...
–  Hummm...
–  Hummm???
– Hummmm....  não sei não.   Estou iniciando um Blog e vou colocar essa fotografia destacada junto com 
meus poemas. E esse retrato não sei, não, ficou feio.  Não dá para passar esse retrato pelo fotoshop para 
que fique mais bonito?
O fotógrafo observou o retrato no computador, fitou a mulher e pensou: esse retrato é cópia fiel do rosto 
desta coroa.
– Gostaria que caprichasse mais, continuou a poetisa, veja de tirar essa mancha do lado esquerdo da testa 
e  essas rugas.  Ah!... também procure  acentuar a cor dos olhos, definir mais as sobrancelhas, diminuir 
o tamanho do  nariz, e gostaria que os lábios ficassem mais carnudos e sensuais e...
            – Um momento! – interrompeu-a o fotógrafo.  A senhora não prefere colocar no blog uma foto 

da Sandra Bullock com seu nome embaixo?



Coluna da escritora e palestrante Isabel Furini. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A FESTA (Conto)


Olhou ao redor. Sua visão parecia turva. Ouvia as vozes dos convidados em matizes cinzentos.  As vozes cada vez mais e mais longínquas. A orquestra tocava música de Ray Conniff.  A mulher loira de cabelos encaracolados que caíam sobre os ombros e ressaltavam sobre o vestido preto, longo, com um laço bordado na cintura, olhava para ela. Essa é a filha do dono, murmurou João. A mulher aproximou-se deles, mas virou a cabeça e só cumprimentou com elegância o casal de velhos que estava do lado direito, com os olhos fixos no quadro de Portinari.

–  Como Portinari soube exprimir a subjetividade do homem!- exclamou o velho.
–  Meu avô foi amigo de Portinari... declarou  a mulher loira que era a rainha da festa. Um homem elegante, de cabelos grisalhos, aproximou-se, segurando um copo de uísque.
– Querida, a esposa do doutor  Sargado perguntou por você.
–  Com licença – falaram os dois em coro.

A orquestra iniciava um blue. Ela viu a filha do dono aproximar-se de uma mulher com vestido de renda verde escuro e uma jóia enorme pendurada do pescoço. Deve valer uma fortuna, pensou.

E ela ficou ali, sem ar, perto da porta, os olhos turvos e uma vontade de chorar. Havia percorrido todos os brechós da cidade – compre um vestido mais ousado, você parece uma velha, havia falado sua filha Carolina. E ela, para sentir-se jovem, havia escolhido um vestido de uma cor muito chamativa, entre o rosa choque e o roxo, ombros descobertos e brincos enormes – a vendedora disse que estavam na moda.

Mas ao entrar no amplo salão do clube viu que só imperavam cores escuras. As jóias brilhavam entre vestidos pretos, verde-escuros, cinza e prata. A anfitriã vestia uma saia preta, longa, de tafetá e uma blusa bordada.
João, murmurou – eu sou a única com um vestido rosa choque, comprado em um brechó!
– Nem se preocupe, você está bem...

Ela teve vontade de chorar. Olhou em silêncio para seu marido, o paletó marrom escuro, barato, não se parecia em nada com os que ostentavam os outros convidados. Fitou novamente seu marido. Parecia tão mal vestido ao lado desses esnobes elegantes. E ela com uma cor berrante. Somos dois palhaços, pensou.
De repente, a música parou. Alguém importante da firma subiu ao palco e começou um discurso. Ao terminar o discurso, vamos embora, murmurou ela, bem perto do ouvido de João.

Olharam-se e,  em cumplicidade, caminharam a passinhos leves para a porta de entrada que estava aberta.
O orador terminou o discurso e a sala vibrou de tantos aplausos.

Mais um discurso.  O casal entreolhou-se. Ambos sorriram e continuaram a mexer-se devagar e silentes como assassinos em filmes de mistério, até chegar à porta. Só ao sair ela respirou fundo.  Caminharam abraçados entre o jardim e os carros. Passaram pelo portão e avançaram pela rua bem iluminada.  Fazia tanto tempo que não se abraçavam. Caminharam unidos por ruas desertas.

– Vamos pegar um táxi? –  perguntou ele.
– Se você quer...
– A próxima quadra é uma avenida, deve ter um...
– E vamos chegar a tempo para assistir a um filme.
– Você pode fazer pipocas no microondas. Assistir a um filme comendo pipocas é o melhor da vida, não é?
– É sim, é – disse ela com voz entrecortada, passando a língua pelos lábios para enxugar uma lágrima.


ISABEL FURINI é escritora e poeta premiada.
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