Em
literatura há uma técnica chamada “mudança de perspectiva”. Os personagens
falam, ou pensam, ou algo acontece, e o leitor descobre uma nova perspectiva de
um assunto. É muito interessante descobrir que isso é simplesmente uma maneira
de levar a visão do homem para o universo literário. Muitas vezes nossa
perspectiva sobre um assunto muda ao conhecer algum fato, ou descobrimos que
sustentávamos uma visão errada sobre uma pessoa.
Lamentavelmente
o ser humano não tem raio-x para ver os pensamentos dos outros. Somos
facilmente enganados pelas aparências. Um rosto bondoso pode ser na realidade
uma máscara para não despertar suspeitas. O sorriso pode esconder raiva ou
ressentimento. O olhar doce pode não ser espontâneo, pode ser resultado de
algum curso de teatro. A elegância nas palavras, às vezes, nasce da artimanha
de seduzir os outros. Além disso, temos os chamados “sintagmas significativos”,
ou seja, palavras ou frases que podem ser usadas com a finalidade de manipular
os outros.
Em
um mundo no qual a imagem impera, nunca sabemos se quando alguém fala de seu
passado está revelando uma verdade escondida, ou está criando uma imagem para
ser aceito, amado ou aplaudido. Só conseguimos ver a cor da pele, dos olhos,
dos cabelos, não conseguimos saber quais são as intenções das pessoas.
E, como nada é tão horrível ao mundo
contemporâneo quanto à honestidade, usamos máscaras. Se as coisas continuarem
desse jeito, corremos o perigo de chegar em casa depois de uma festa na qual
mentimos – desculpem, fomos gentis e dissemos que os doces dos quais não
gostamos eram maravilhosos, excelente o livro recém lançado por algum autor que
desprezamos em silêncio, além de elogiar o horrível vestido da anfitriã, chegar
em casa e caminhar até o espelho para tirar a máscara e descobrir que sob essa
máscara há outra. Tirar a segunda máscara e descobrir mais uma... Ao final,
quem poderá dizer que conhece o seu rosto autêntico?
Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews em maio/12.
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