É muito interessante perceber que
a maioria de nós muitas vezes fala frases impensadamente. Temos frases comuns
que nos levam por caminhos que não pensamos, é comum dizer “matou por amor”, “o
amor domina o mundo”, “ a honestidade é a melhor política”, “dinheiro não traz
a felicidade” e outras.
Lamentavelmente nenhuma dessas
afirmações resiste ao pente fino. Quando filtramos essas frases vemos que não
se adaptam à realidade. A primeira já foi discutida por psicólogos. Ninguém
mata por amor, em geral, quando uma pessoa ciumenta mata a sua namorada, ou
namorado, falamos “matou por amor”, mas a causa não é o amor, é o ciúme.
Outra frase que leva a discussões
é dizer que “o amor domina o mundo”. Será? No mundo, seja empresarial, social,
político, quem domina é o jogo (ou joguinho) de poder. Um quer mostrar que é
superior ao outro, ou um quer dominar o outro ou usar o outro como degrau para
subir mais alto. Existe amor nas relações internacionais? Entre sérvios e
bósnios? Entre árabes e judeus? Entre
ateus e crentes? Entre ricos e pobres? Os Estados Unidos “ama” e protege os
países subdesenvolvidos ou aproveita para sugar as riquezas naturais? Às vezes é
difícil entender o porquê dessa frase romântica: o amor domina o mundo. Se o
amor dominasse mesmo, este mundo seria quase um paraíso.
Eu também pensei durante muito
tempo que a honestidade era a melhor política – e como criei inimigos por essa
minha compulsão à honestidade. Uma vez uma aluna me disse que em uma festa um
bêbado brindou à memória do pai morto fazia pouco tempo e disse: “Obrigado,
papai, graças a você eu sou bom. Obrigado, papai, graças a você eu sou
autêntico. Obrigado, papai, graças a você eu sou honesto, muito honesto.
Obrigado, papai, graças a você eu sou pobre...”.
E sobre o “dinheiro não traz a
felicidade”, ele sozinho não traz felicidade, não, mas sem ele ninguém é feliz.
Se você precisar ir a um médico, a um dentista, viajar, comprar uma casa, ir ao
teatro, comprar um livro, de um computador e não tiver dinheiro, imediatamente
pensará que o dinheiro não é tudo, mas que ajuda muito. É uma das condições
para ser feliz. Como disse aquele piadista, “não é que eu goste do dinheiro, é
que ele me acalma os nervos”.
Mas essas frases feitas as
pessoas repetem, até fica bonito dizer que o “dinheiro não traz a felicidade”,
ou que o “amor domina o mundo”. Um amigo que gosta de luzir-se dizendo que seus
filhos só usam tênis das melhores marcas, que custam em torno de R$ 1.000,00,
que vão às melhores escolas e fazem esporte em bons clubes, etc., fecha sua
fala dizendo: o dinheiro não traz a felicidade. Em uma reunião um rapaz
exclamou: “A quem quer enganar, seu mané?”.
Isabel Furini é escritora e poeta premiada.
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