Algumas vezes o Carlinhos admira a todos com a sua sabedoria. Com seus
seis anos e meio já é um filósofo.
Dias atrás Inês falava com dona
Marieta, avó do Carlinhos, sobre as dificuldades que enfrentam as pessoas com
deficiência visual. Elogiava a coragem de um jovem cego que morava no outro
quarteirão.
– Dona Marieta – disse Inês – eu estava perto da estação
central, caminhando para o ponto do biarticulado quando vi o rapaz cego indo
para o mesmo lugar. De repente, ele se desorientou e bateu a bengala contra a
parede de um prédio. Aproximei-me dele e perguntei aonde ia. Ele respondeu que
queria pegar o biarticulado. Eu falei que também iria para lá e perguntei se
podia pegá-lo pelo braço para guiá-lo. O rapaz disse que sim. Fomos até a
Estação Central. Ele agradeceu, mas disse
que podia continuar sozinho.
Inês ficou perto, observando-o. O
rapaz cego permaneceu perto da porta. Ninguém deu o lugar. Ele estava de pé
assegurando-se do corrimão. O ônibus, lotado. De repente, vira a cabeça para a
pessoa da direita e pergunta: “ O próximo ponto é Praça do Japão? – Sim, reponde o homem, é o
próximo ponto.
O cego desceu e o ônibus
continuou seu caminho.
– Dona Marieta, - confessou Inês
- eu fiquei admirada de como um cego consegue ir onde quer... ele não vê mas conseguiu ir onde queria.
– Claro, ele era cego não era
burro... – retrucou o Carlinhos.
– Eu sei, Carlinhos! – exclamou
Inês rindo - mas deve ser difícil chegar a um lugar que a gente não pode
enxergar...
– Sim, meditou o Carlinhos, o
cego chegou onde queria porque o importante não é ver, senhora Inês, o
importante é saber... saber aonde a
gente quer chegar.
Nesse momento, Inês pensou
que Carlinhos tinha descoberto por si
mesmo uma regra importante para a vida. Para chegar algum lugar é preciso saber
qual é nosso objetivo. Pensou que
Carlinhos era um sábio, um pequeno sábio que gostava brincar com
aviãozinhos.
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