quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O CEGO (Crônica)


Algumas vezes o Carlinhos  admira a todos com a sua sabedoria. Com seus seis anos e meio já é um filósofo.
Dias atrás Inês falava com dona Marieta, avó do Carlinhos, sobre as dificuldades que enfrentam as pessoas com deficiência visual. Elogiava a coragem de um jovem cego que morava no outro quarteirão.
– Dona Marieta –  disse Inês – eu estava perto da estação central, caminhando para o ponto do biarticulado quando vi o rapaz cego indo para o mesmo lugar. De repente, ele se desorientou e bateu a bengala contra a parede de um prédio. Aproximei-me dele e perguntei aonde ia. Ele respondeu que queria pegar o biarticulado. Eu falei que também iria para lá e perguntei se podia pegá-lo pelo braço para guiá-lo. O rapaz disse que sim. Fomos até a Estação Central.  Ele agradeceu, mas disse que podia continuar sozinho.
Inês ficou perto, observando-o. O rapaz cego permaneceu perto da porta. Ninguém deu o lugar. Ele estava de pé assegurando-se do corrimão. O ônibus, lotado. De repente, vira a cabeça para a pessoa da direita e pergunta: “ O próximo ponto é  Praça do Japão? – Sim, reponde o homem, é o próximo ponto.
O cego desceu e o ônibus continuou seu caminho.
– Dona Marieta, - confessou Inês - eu fiquei admirada de como um cego consegue ir onde quer...  ele não vê mas conseguiu ir onde queria.
– Claro, ele era cego não era burro... – retrucou o Carlinhos.
– Eu sei, Carlinhos! – exclamou Inês rindo - mas deve ser difícil chegar a um lugar que a gente não pode enxergar...
– Sim, meditou o Carlinhos, o cego chegou onde queria porque o importante não é ver, senhora Inês, o importante é saber...  saber aonde a gente quer chegar.
Nesse momento, Inês pensou que  Carlinhos tinha descoberto por si mesmo uma regra importante para a vida. Para chegar algum lugar é preciso saber qual é nosso objetivo. Pensou que  Carlinhos era um sábio, um pequeno sábio que gostava brincar com aviãozinhos.

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