Morava perto
do parque de Bacacheri e caminhava diariamente até o parque para aproveitar a
água mineral que jorrava por uma torneira. Geralmente era preciso esperar na
fila, mas, lamentavelmente, entre a porta e a torneira havia gansos que
descansavam ao lado do lago. Eu entrava, tirava a garrafa da sacola de plástico
e esses gansos me perseguiam. Falei com uma vizinha e ela disse que os animais
sentem as energias negativas, era preciso pensar positivo enquanto caminhava.
Eu segui o conselho de minha vizinha, mas não deu resultado. Os gansos me perseguiam.
Sempre. Eu corria, e esse bando de palmípedes corria bem perto de meus
calcanhares. Um sábado de manhã observei que uma idosa mexia uma sacolinha de
plástico entre as mãos fazendo barulho. Os gansos seguiam os passos da mulher e
ela lhes dava comida. Semelhante ao sino de Pavlov, o barulho produzido pela
sacolinha de plástico anunciava os alimentos.
Os palmípedes não eram agressivos, eles eram inteligentes e haviam
associado “barulho de plástico = comida”. A perseguição parou quando comprei
uma sacola de pano.
Isabel Furini é escritora e
palestrante.
sábado, 29 de setembro de 2012
domingo, 16 de setembro de 2012
CASAMENTO: PARAÍSO OU INFERNO??? (Crônica)
Entraram na sala de aulas de mãos dadas, olhando-se
incansavelmente, com olhos sonhadores como um poeta que observa estrelas
distantes. Sentaram na última fileira. Ele me dissera, três anos atrás que era
casado fazia mais de 20 anos.
Curiosa, fiquei observando-os enquanto ministrava
aulas de oratória. Lembravam-me um par de andorinhas que desejavam fazer o
ninho. Ora se olhavam carinhosamente, ora ele mordia o dedinho dela, ora ela
acariciava o rosto, a barba ou os cabelos curtos do homem. Uma coisa eu sabia, casal
antigo não se comporta assim. Até Nero
agradeceu a Sêneca por ter-lhe ensinado a arte da retórica, enfatizei
enquanto pensava: Essa não é a esposa dele. Não é, não...
Uma gaúcha, muito minha amiga, sempre diz que um
casamento tem quatro fases: Primeiro, é fase da paixão. É o encontro, o
descobrimento do outro, o amor, o sexo a qualquer hora e em qualquer lugar. O
segundo momento é mais controlado. Demonstrações de afeto e sexo só no quarto,
depois que as crianças dormem.
No terceiro momento, sexo só no corredor. Quando
ambos se encontram, olham-se com rostos de ódio e um diz para o outro Vai para... Depois vêm o quarto momento,
o divórcio. Eu estava na fase do divórcio e meu olhar perspicaz dizia que eles
estavam na primeira fase, na fase da paixão.
No horário do descanso, aproximei-me e fiquei
falando com o casal. Ele comentou que, dois anos atrás, havia-se separado da
esposa e que no sábado completariam seis meses de namoro. Depois, olhando a
moça com a paixão de um bêbado diante de uma garrafa de cachaça, acrescentou
que essa mesma semana haviam começado o noivado e já estavam planejando morar
juntos. Tive que controlar-me para não gritar: "Eu sabia que essa não era
a esposa... eu sabia..." Sorri de
maneira educada e os parabenizei, desejando-lhes sorte. Interiormente
parabenizei a mim mesma por ser tão certeira em minhas deduções.
Acontece que casamento também tem data de validade e
os anos vão passando e o fogo torna-se
cinza... Como comenta Fernanda, uma amiga que é psicóloga, e orienta casais: Com os anos, morre o amor e só fica o apego. Não falei nada para eles, não queria
parecer antipática; afinal o casamento é uma única instituição onde os que
estão fora querem entrar e os que estão dentro querem sair.
domingo, 2 de setembro de 2012
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