quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O DIA EM QUE ME SENTI UM PERSONAGEM (Crônica de Isabel Furini)


"Quando um livro é publicado de maneira clássica, ou seja, quando o autor envia seu texto a uma editora que “banca” a publicação e encarrega-se de conseguir diagramador, capista, de fazer a correção ortográfica e procurar uma boa gráfica, é comum o autor ganhar alguns livros para presentear a imprensa ou pessoas que sejam consideradas líderes de opinião.

Pois bem, isso aconteceu quando há mais de vinte anos foi publicado um livro infantil de minha autoria chamado “O Prego Nélio”.

Acontece que eu fui doando os exemplares que tinha até ficar sem nenhum. Irritada com meu próprio erro, fui até uma instituição que tinha um exemplar do livro para tirar fotocópias. Minha surpresa foi enorme quando escutei a secretária dizer: “Ninguém pode tirar fotocópias dos livros”.


Mostrei minha identidade e falei:
- Eu sou a autora do livro.
- Mas se fotocopiar o livro, isso seria plágio. - retrucou-me com muita seriedade.
- Eu sou a autora. Acaso irei plagiar o meu próprio livro? - perguntei um pouco confusa, sentindo-me um personagem que havia fugido de alguma crônica do Veríssimo.
- Não pode fotocopiar. - insistiu.
- Eu escrevi esse livro! - gritei.
- Mas o exemplar é nosso e não poderá fotocopiar.

Tive que me resignar e voltar para casa. Por sorte, uma antiga aluna que havia guardado um exemplar tirou fotocópia e teve a delicadeza de ficar com a mesma e presentear-me com o livro do qual sou autora. Mas isso despertou várias reflexões: a primeira sobre a necessidade de guardar um exemplar de qualquer obra de minha autoria; a segunda, de que muitas vezes o zelo administrativo leva a situações absurdas como a que eu havia vivido, e ficou em mim a sensação de que em algumas situações nossa humanidade parece perder-se no mar da ficção. Parecemos um personagem de crônica vivendo uma situação bizarra, e precisamos nos olhar no espelho para reconhecer quem realmente somos.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O TERMINAL GUADALUPE E AS SOMBRAS (Conto de Isabel Furini)

O TERMINAL GUADALUPE E AS SOMBRAS (Conto)

18 horas - Cai o sol de inverno, pálido, sem forças.

19 horas – Escurece mesmo.

Os operários da construção civil, trabalhadores domésticos, pessoal da limpeza, vendedores alguns camelôs, professores, poetas e sonhadores, saem de seus trabalhos e correm até o terminal.

Mariazinha, está na fila do Vila Zumbi quando escuta seu nome: "Mariazinha" – alguém acena para ela. Que bom! – murmura a Mariazinha – O gerente vai me dar carona de novo.

– Não faça isso senhora, é pecado. – diz uma mulher com saia e cabelos longos (muito longa a saia, muito longo o cabelo).

Uma mulher de olhos azuis observa de cima para baixo a mulher de saia comprida e solta uma gargalhada. – Cale a boca sua vadia e cuide de sua vida! – fala com autoridade.

Minutos depois chega Aparecida, Cida para os amigos. Estou pensando em fotografar esses dois e ganhar uma grana extra.

Boa ideia, fala a mulher dos olhos azuis.

Um casal de idosos olha para elas e comenta algo sobre falta de ética. – O mundo mudou, meu velho – fala a idosa.

Duas mulheres olham para a igreja do Guadalupe e fazem o sinal da cruz. Um pai fala para seus filhos "é o triunfo do mal, um sinal do fim do mundo". Idiotas pensa uma professora, tira um livro da bolsa e começa a ler. Várias pessoas da fila comentam o fato de o ônibus estar demorando mais que outros dias.

O Apolinário olha as pessoas apinhadas e fala:

Foi tão difícil a estrada!
meus pés estão cansados,
minhas mãos, calejadas,
minha boca muda e sem vida
minha vida sem esperanças.

Ninguém olha para ele. Que indiferença. Ninguém vai dizer nada? Gente. Eu declamei um poema.

Chega o ônibus – Por fim! – exclamo um idoso. As pessoas começam a subir e ocupar os assentos. Alguns viajam de pé, outros preferem esperar o próximo. A fila parece uma cobra gigantesca. Cresce rapidamente.

Apolinário repete:

Foi tão difícil a estrada!
meus pés estão cansados,
minhas mãos, calejadas,
minha boca muda e sem vida
minha vida sem esperanças. 


– Parece que ninguém gostou do poema. Fala o Apolinário.

– Não adianta – comenta Tiago, um amigo dele. Eles não conseguem te enxergar.

– Um momento. Veja essa criança, ele escutou. Sim, ele escutou e está olhando para os lados.

– Olhe, mamãe. Esse cara engraçado, lá no teto.

– Querido, esse é seu amiguinho invisível? – Pergunta a mãe sorridente, encurvando-se sobre a criança e dando-lhe um beijo na bochecha.

– Ele não é meu amigo – fala a criança.

De repente uma forte luz ilumina o lado direito do terminal, mas ninguém repara.

Do lado esquerdo, as sombras crescem.

Do lado direito um homem com roupas brancas tem um sorriso iluminado.

Do lado esquerdo, um homem com roupas cinzas tem um olhar terrível.

Do lado direito, para um ônibus, as pessoas começam a subir. O Zecão abre a carteira. O homem do sorriso iluminado grita:

– Não faça isso Zecão, falei tantas vezes para não fazer isso, meu amigo.

Do lado esquerdo três homens correm. O rapaz de óculos empurra o Zecão, outro tenta pegar a carteira. O Zecão, aperta a carteira. Um dá um soco no nariz dele. Mas o Zecão não solta. O terceiro, passa a navalha pela garganta do Zecão.

O Zecão não solta a carteira. As pessoas gritam. O sangue encharca o terminal. As pessoas pegam os celulares e tiram fotografias do Zecão morrendo. Ninguém chama uma ambulância. É mais importante registrar o momento. Não adianta, esse cara vai morrer mesmo, fala o rapaz de camiseta amarela. Vamos tentar vender essas fotos para algum jornal, murmura o amigo dele.

Uma moça solicita a uma mulher vestida com casaco preto, de olhos esbugalhados, para tirar uma foto dela ao lado do morto. A mulher está a ponto de chorar.

– Por favor, senhora, implora a moça. Uma coisa como esta é difícil de acontecer, fala enquanto penteia o cabelo. – Minhas amigas não vão acreditar. Preciso de uma foto.

A mulher, seca uma lágrima com o dorso da mão e pega a câmara fotográfica.

– Tem que apertar aqui – fala a moça mostrando um botão prateado na parte direita da câmara. A mulher, indecisa, demora um pouco, mas consegue tirar a foto. Na frente a moça, no chão o homem ensanguentado.

– Preciso de várias fotos, por favor, alguma delas vai ficar boa. Fala a moça muito empolgada como se o momento fosse de festa.

Perto dela um rapaz com seus fones de ouvido faz movimento de dança com a cabeça, mas o corpo permanece rígido no lugar.

O homem sorridente que faz parte do globo de luz da direita grita:

– Ei, Zecão. Venha para este lado, homem. Não vai para as sombras, não. Venha!

Os outros seres que estão a seu lado também gritam: – Venha, Zecão, venha.

– Zecão, você está em nossa lista! – grita o homem de olhar terrível que chefia as sombras.

– Está na lista! – grita o coro de sombras desafinado.

O Zecão está confuso. Lembra da esposa e dos filhos, ele quer voltar para casa. Sentar no sofá, assistir TV., comer o arroz com feijão.

O homem de olhar terrível do lado esquerdo mostra partes da vida do morto.

O homem sorridente do lado direito, também mostra partes da vida do morto.

O Zecão sente medo. Impulsivamente, corre para a luz.

O poeta vê a cena e declama um poema:

Essa luz que agora acende,
com milhares de lembranças,
é de um túnel que surpreende.
Quem caminha além do túnel
reencontrará a esperança.

O homem sorridente da bola de luz que está do lado direito grita:

– Poeta, você vai entrar na luz ou vai continuar declamando no terminal?

– Eu também morri neste terminal – fala o poeta. Mas foi de problema cardíaco, há 8 anos. Acho que vou ficar por aqui mesmo. Sempre encontro amigos.

– Sim, vamos ficar mais um pouco – disse o amigo de Apolinário. Os dois pulam sobre o teto de ônibus amarelo que está saindo do terminal e acenam repetidamente com a mão direita.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada.
  



Texto escrito na oficina de Ricardo Corona, em 2014, sobre o tema "Terminal Guadalupe". 
Isabel Furini é escritora e poeta.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O ESCRITOR

O ESCRITOR

Ernesto mudou-se do centro da cidade para o bairro de Bacacheri, perto do parque. Precisava de silêncio para escrever sua obra fundamental. Renovarei as letras, falava com seus botões. 

Nessa manhã de sábado estava sentado diante do computador. Escrevia o primeiro parágrafo de seu novo romance. Que nome daria à sua personagem? Teria que iniciar com A para demonstrar que o enredo partia de uma ação realizada pela protagonista. Ana seria um bom nome? Não! Curto demais. Anastásia? Não! Poderia ser confundido com a história da nobre russa desaparecida. Anacleta... não... não... Albertina? Isso mesmo! Albertina! Albertina foi o nome escolhido por Proust para sua personagem feminina. Por que não? Ao final, meu livro tem uma marcante influência proustiana, concluiu. 

Uma vez escolhido o nome da protagonista, o escritor inicia o primeiro parágrafo. Tem que ser visceral, pensou. Dilacerante! “No quarto escuro, Albertina apalpa as paredes. Onde estará o espelho de luz? Um reflexo luminoso no chão. A luz entrava por baixo da porta. Do outro lado, vozes e risos. Uma festa? Não lembrava...” Não lembrava... eu escrevi não lembrava mas ficou feio. Tenho que achar outra frase. Vejamos. Uma festa? Albertina estava confusa... Que porcaria... não era isso, não. O que escrever depois da pergunta: uma festa? Imagens rápidas... Não, rápidas não!.. Imagens entrecortadas. Isso ficou bom: imagens entrecortadas acudiam velozes. Que diabos estou escrevendo? Imagens não acodem... imagens... imagens aparecem? Surgem? Nada disso. Ernesto deleta as frases e volta àquela pergunta: Uma festa? 

Ele tentou escrever esse parágrafo durante horas a fio. O sol caía no horizonte quando Ernesto, desesperado, olhou o céu azul profundo com matizes vermelhos. Olhou o monitor. Não havia conseguido terminar o primeiro parágrafo. Nem o retrato de Proust, colocado na estante lhe havia servido de inspiração. – Se não posso ser igual a Proust, para que viver? – perguntou-se. Sempre olhando o céu, encaminhou-se à janela. E trêmulo e corajoso ao mesmo tempo, gritou: 
– Márcia, coloque no meu epitáfio: Foi um bom escritor. 

A esposa correu até o quarto, mas era tarde demais. Chegou no momento em que Ernesto, de olhos fechados, jogava-se pela janela. Machucou o braço e as costas. Tentou sentar-se na grama, enquanto Márcia, colocando a cabeça para fora da janela, gritava: – Ernesto, o que tentou fazer? Você esqueceu que agora moramos no térreo?

Isabel Furini é escritora e poeta premiada - e-mail: isabelfurini@hotmail.com

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Milagre de Natal (Conto)

João recebeu uma ligação da editora. A secretária disse que o senhor Eufrásio, o dono, queria vê-lo nessa mesma tarde.

João sentiu seu ego elevar-se sobre os prédios mais altos da cidade. Arrumou-se. Trocou duas ou três vezes de gravata para ver qual lhe dava um ar de homem respeitável. Agora ele era um escritor. Tinha que cuidar de sua imagem.

O editor o recebeu com um sorriso especial… um sorriso que não tinha fim.

– Pode sentar-se, João – disse o senhor Eufrásio – quero enfatizar que raramente um autor estreante como você recebe uma carta de um autor consagrado como Mistópolos… e com tantos elogios! Eu posso dizer que foi um verdadeiro milagre!

– Obrigado, obrigado – disse João, fingindo humildade.

– Foi um milagre, rapaz, um milagre mesmo… um milagre de Natal!..

– Foi?

– Sim, João, foi um verdadeiro milagre, pois Mistópolos morreu em 2005.

Fonte:  FURINI, Isabel Florinda (org.) Contos por 14 Autores. Curitiba: JM Livraria Jurídica, 2008.

O Caçador e o Anjo (Conto)





Era uma vez um jovem Anjo que duvidava da existência dos homens. Ele via uma forma de carne, ossos, sangue, pele, cabelos, uma forma material. Essa forma se movia, alimentava-se e descansava, mas ainda assim o Anjo duvidava de que fosse um homem.

O anjo sabia que os homens são espírito e matéria, e que ele tinha uma missão: cuidar de um deles. Porém, questionava se a forma rude que via era mesmo de um ser humano.




O homem, chamado Estevão, só acreditava no mundo material e ria quando alguém lhe dizia que existiam anjos. Um dia ele foi caçar numa floresta e, correndo sobre o mato úmido atrás de um veado, bateu contra o tronco de uma árvore morta que estava caída no chão. A arma escorregou de suas mãos e um forte estrondo, como o rugido de um leão, agitou a floresta. Rapidamente os pássaros revoaram e animais pequenos voltaram a suas tocas. Ao cair no chão a espingarda disparara e o caçador, com tão pouca sorte, foi ferido.

Estevão, lá deitado, vendo o sangue escorrendo de seu peito, olhou para o céu a fim de pedir socorro e, num raio de sol que penetrava pela copa das árvores, divisou a imagem de um anjo com suas aas brancas. O Anjo, por sua vez, ao ver o homem clamando por Deus, percebeu seu espírito. Ambos se olharam com curiosidade e, em seguida, passaram a se examinar mutuamente

- Você é um Anjo? Então os anjos existem! - disse o homem, admirado.

- Você é um homem? Então os homens existem! - exclamou o Anjo.

Ambos deram-se as mãos. Estevão, no entanto, havia perdido muito sangue e desmaiou. Foi acordar num quarto simples, da casa de um lenhador que por acaso passara por onde ele se encontrava na floresta e, ao vê-lo ferido, decidiu a ajudá-lo.

Desde esse dia o caçador se fez amigo do Anjo, e o Anjo se fez amigo do homem. O humano sentiu-se tão feliz com seu companheiro celeste que deixou de matar outras criaturas. Agora, sua maior diversão era observar os seres da natureza: ondinas e gnomos, silfos e salamandras. Mostrou também seu mundo a seu amigo: casas e fábricas, lojas e clubes, cinemas, teatros e shoppings. Mas o ser celeste preferia as florestas, as montanhas e os mares, o ruído dos ventos, das ondas e dos pássaros.

O homem e o Anjo sempre permaneciam juntos, e os sensitivos que por acaso os viam, detinham-se perplexos a observá-los: ambos caminhavam juntos, tão serenamente que ninguém sabia se o homem era guiado pelo Anjo ou se o Anjo era guiado pelo homem.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de "Os Corvos de Van Gogh", poemas.



O NERD (Conto)

Todas as sextas-feiras, à tardinha, depois de sair do trabalho, a turma reunia-se no bar da esquina para beber e contar piadas. Arnaldo era o rei. Entre cervejinhas e batatas fritas divertia o grupo, contando piadas com o jeitinho de Ary Toledo.

Essa sexta-feira o escritório estava agitado. Na segunda-feira chegaria um cara novo, indicado pela diretoria. Um novo gerente, inteligente, jovem e inovador.

Segunda-feira de manhã, logo cedo, o estacionamento já estava lotado.

Quando a porta do elevador abriu-se… – Meu Deus! Esse cara foi colega de escola… Nós o chamávamos de nerd… nerd… nerd Ental… “nerdental”!.. Porque era um verdadeiro nerd. Gostava de ler história, arqueologia, filosofia, sei lá, essas baboseiras… Esse cara vai ser o diretor da empresa? Quem diria!..

O dia passou rápido. Arnaldo percorreu todas as escrivaninhas falando: Coitado do Zulmar, o novo diretor, tinha medo de falar com meninas. Coitado do Zulmar, o novo diretor…

Três dias depois, os funcionários foram chamados para falar com o diretor. Quando Zulmar foi dar-lhe a mão, Arnaldo esquivou-se e lhe deu dois soquinhos no ombro para mostrar que era o dono da situação. O diretor, em silêncio, pegou a ficha.

– Há cinco anos que você tem o mesmo cargo.

– Sim, mas se me quer nomear chefe estou disposto a chefiar a empresa – brincou.

– A empresa vai entrar um novo ritmo de trabalho. Lamentavelmente, você não se adapta bem a mudanças.

– Não, não é isso “Nerdental”!.. falou rindo Arnaldo.

O diretor não riu. – Pode passar pelo RH.

– Não, escute, só falei Nerdental para lembrar dos velhos tempos. Não precisa…. não… O diretor, impassível, pediu para a secretária chamar outro funcionário. teve que obedecer e falar com o gerente do RH. Lá começaram os problemas.

– Sabe por que está aqui? – perguntou a psicóloga.

– Sim! – gritou Arnaldo – porque esse nerd miserável, cretino, foi nomeado diretor e se acha o dono do mundo e… Arnaldo ficou quase uma hora falando mal do diretor. A psicóloga entendeu que Arnaldo tinha raiva reprimida, não apreciava o triunfo alheio e tinha problemas de relacionamento.

– Com a turma da cerveja, dou-me muito bem! – gritou o Arnaldo para defender-se.

A psicóloga olhou-o atrás de suas lentes grossas. Predisposição para alcoolismo – escreveu em seu caderno de notas.

Arnaldo foi rebaixado para auxiliar. Começou a freqüentar o bar todos os dias, até que chegou ao trabalho bêbado, quase caiu sobre o computador, derrubou alguns papéis… O chefe do setor falou em despedi-lo, mas o novo diretor, com muita calma, explicou que alcoolismo é doença e pediu para o encarregado ser paciente e falar com o R.H para achar uma solução.

A notícia se espalhou, e todos ficaram comovidos. Comentavam que o novo diretor era um homem justo e queria ajudar os funcionários problemáticos.

– Esse cara é um vitorioso, comentavam os funcionários.

Uma noite, Arnaldo chegou à casa de sua irmã, quase bêbado e gritou durante vinte minutos seu ódio contra o novo diretor da empresa.

Paulino, o cunhado, tranqüilo, disse para Arnaldo aceitar a realidade. – Talvez o novo diretor o esteja sacaneando. Se o diretor tem um plano para prejudicá-lo, ele o está fazendo com tanta classe, que ninguém enxerga a verdade. Arnaldo, você deveria seguir o que falam as pessoas bem sucedidas. Não conhece essa frase do famoso empresário Bill G., que está rolando na Internet?

– Não!.. Qual frase?

– Bill G. disse para um grupo de estudantes: “Nunca zombe de um nerd, pois um deles será seu chefe”.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada.

AMOR UNIVERSAL NA LÍNGUA (Crônica)


É assim como uma amiga chama o fato de escrever frases positivas, repetir, enviar por e-mail, pelo Twitter, pelo Facebook, de maneira quase obsessiva, mas não resistir a uma opinião diferente. Muito amor, muita paz, muita boa vontade, até que alguém expresse uma ideia contrária a deles, nesse momento “o amor universal” que estava na língua cai fora e aparece o verdadeiro eu, com suas raivas, frustrações e limitações.

Pessoalmente acho invasivo alguém bombardear o e-mail e a página nas redes sociais de outra pessoa para divulgar as próprias ideias, sejam religiosas, políticas ou positivas. É o fanatismo de querer impor uma maneira de pensar aos outros. A máscara pode ser o amor universal, mas atrás da máscara está o desejo de impor um determinado ponto de vista.

Isso me faz lembrar uma tira cômica que vi há algum tempo. O primeiro desenho mostra dois grupos de pessoas em lados opostos de uma rua, ambos os grupos com cartazes dizendo “Paz”. No segundo momento, os dois grupos se encontram e brigam porque cada grupo acha que está divulgando a verdadeira paz.

Enfim, nesta época, além da ditadura da beleza, temos que suportar a ditadura da felicidade… Sim, porque há pessoas que exigem que os outros sejam felizes o tempo todo, como se isso fosse possível. Mas é só mexer um pouquinho na tinta das letras para ver o eu humano, limitado, frágil, impermanentemente buscando o carinho, a aprovação ou simplesmente o aplauso.

* Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de "Escrevendo Crônicas: Dicas e Truques".
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