terça-feira, 14 de agosto de 2012

NARIGUDO E ESTUPRADOR? (Crônica)


Eu tinha 17 ou 18 anos quando decidi fazer um curso de datilografia – ainda era a época da máquina de escrever. Procurei um lugar perto da minha casa. Ficava a seis quadras e havia que passar por uma fábrica com um longo paredão. O lugar assustava um pouco.

Ao me inscrever a professora disse que tinha poucas máquinas e no momento só tinha livre o horário das 8:00 às 9:00, mas qualquer vaga que abrisse para as 10 ou 11 horas ela a reservaria para mim. Eu aceitei.
Minha rotina de terças e quintas era acordar, tomar banho, um café rápido e correr para o instituto de datilografia. Saia de casa as 7 horas 45m., pois gostava de chegar cedo e pegar a melhor máquina. Era inverno, amanhecia  com o céu de cor cinza escuro. Nesse horário ainda as lojas não haviam aberto e havia poucas pessoas na rua.

Esse fato intranquilizava minha mãe, especialmente porque havia sido noticiado pela televisão que um estuprador que atacava mulheres jovens e bonitas (ele é estuprador, mas não é bobo, tem bom gosto, brincavam as pessoas). Pois bem, qualquer mãe acha os seus filhos bonitos. E a minha não era diferente. 
Os vizinhos só falavam do estuprador, especialmente, porque uma moça de um bairro perto havia sido atacada por ele com uma faca, mas conseguira escapar graças a um casal que estava na rua e correu para ajudá-la. Ela disse que o homem tinha uma parte do rosto coberto  por uma echarpe preta, e era narigudo.
-Cuide-se! Ordenava a minha mãe quando eu saia de casa. - Fique de olho, de vez em quando vire-se para observar se não está sendo seguida por alguém.

Eu caminhava pela rua olhando aos lados, às vezes, virando a cabeça, e se alguém se aproximava atravessava a rua. Até que uma manhã muito escura, o céu cinza ameaçando chuva, eu caminhava atenta ao lado do paredão da fábrica quando vi de supetão  um homem virando a esquina. Ele vinha na minha direção. Percebi imediatamente a echarpe preta cobrindo-lhe a boca. E o nariz enorme!  Meu coração pulou do peito. Minhas pernas tremiam. Olhei para atravessar a rua, mas vinham carros a alta velocidade. Eu fiquei parada sem saber o que fazer. O homem se aproximava rapidamente. Quando estava a poucos passos de mim colocou a mão no bolso do paletó. A imagem de uma faca se formou na minha mente. Soltei um grito e pulei da calçada para a rua ficando ao lado do meio-fio . O homem, calmamente, tirou um lenço do bolso e assou o enorme nariz.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de “O livro do escritor”. Orienta oficinas para pessoas que desejam escrever livros de contos, crônicas e romance no Solar do Rosário (41) 3225-6232.

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