quinta-feira, 16 de agosto de 2012

TANGO – “el gato maula y el mísero ratón”…(crônica)



No sábado, minha amiga Giovanna ligou. Uma amiga dela, da época de faculdade, que morava no interior, estava de visita e podíamos almoçar juntas, ir ao shopping e ao cinema.  Quase ao meio-dia nos encontramos no shopping e a amiga de minha amiga começou pegando “duro” já no início de conversa.

-Você é de Buenos Aires? Eu gostaria tanto de conhecer essa cidade, mas nunca se sabe se um argentino é confiável.

Depois de uma primeira frase pouco simpática, eu sabia que a mulher não era flor que se cheira. Caminhamos pelo shopping e entramos numa loja. A mulher fez piadas grosseiras com a atendente. Disse que precisava ver como a blusa ficava e obrigou-a a experimentá-la sobre a roupa, tudo com muito riso e algazarra, ou seja, fez aquele barraco que curitibano odeia mesmo!

Fomos almoçar e ela implicou com a garçonete, realmente eu nem lembro o porquê, parece que a moça tinha acento gaúcho. Depois perguntou: – Tem vinho argentino? Mas não traga para mim, porque os vinhos de lá são uma porcaria. Olhou-me e inquiriu: – Por que os vinhos chilenos são melhores? Respondi que não sabia, que podia ser o tipo de uva. Ela retrucou: – Na Argentina tudo é ruim, até o solo!

Terminamos de almoçar e entramos no cinema. Por sorte, foram duas horas de filme. Ao sair Giovanna me deu carona. Então veio o assunto da morcela: – Na Argentina comem morcela? – perguntou e eu já sabia que vinha alguma frase agressiva.  Alguns comem, eu gosto da morcela de lá porque é muito bem temperada e fortalece contra anemia. Mexeu-se no banco do carro e quase gritou: – Nheca! Morcela é horrível!
– Você come carne de porco? Come peixe? – perguntei.
- Sim. – respondeu.
- Pois alguns povos não comem porco, e em alguns países africanos não se come peixe, mas é por motivo religioso, e isso deve ser respeitado. Mas você não gosta da morcela porque é simplesmente preconceituosa.

 – Eu, preconceituosa?!!!
  -  Sim, muito preconceituosa!  – gritei com raiva.

Ficou em silêncio. Porfim, silêncio!!! Graças a Deus a matraca calou, pensei.  Ao despedirmos, ela disse que seu sonho é visitar Buenos Aires.

Pensei sobre o porquê da atitude dessa pessoa. Lembrei-me de um tango que diz: “Como juega el gato maula con el mísero ratón”. (Como brinca o gato covarde com o mísero rato). Esse é o princípio do bullying. Só que eu não sou gato, nem sou rato, minha atitude é mais parecida com a de cachorro que rosna. Ao final, penso que não temos por que suportar tanta agressividade disfarçada de diversão. Eu prefiro o lema: Viva e deixe viver, muito bem sintetizado numa dedicatória que li num livro de Leslie Cameron-Bandler: “Agradeço a meus pais que me ensinaram a ficar de pé, sem necessidade de pisar no pé dos outros”.

 * Isabel Furini é escritora e palestrante. Autora de “O livro do Escritor” da editora Instituto Memória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...