sexta-feira, 13 de abril de 2012

Viver ou ver a vida passar? Crônica

Penso que A VIDA É UMA VIAGEM. Não podemos ficar como barcos encalhados.

Nos anos 90, uma amiga me convidou para participar de um curso de organização mental. Para reconhecer afinidades entre os participantes, a professora, já na segunda aula, deu-nos um questionário. Uma das perguntas era: o que você quer mudar de sua vida?

Céus! A maioria de nós queria mudar tanta coisa que ficamos surpresos porque minha amiga disse: Eu não quero mudar nada, quero que tudo continue igual, sou aposentada. Uma vez por semana vou até Araucária para ver minha cunhada, uma vez por mês desço à praia para comer um peixinho em Paranaguá e duas vezes no ano vou ao Rio para visitar minha irmã. Eu não quero que nada mude.

– Mas você não disse ontem que mora sozinha?
– Sim, mas eu gosto de morar sozinha.
– E não disse que não gosta do clima frio de Curitiba?
– Sim, mas eu não vou mudar de residência.
– Você não disse que gostaria de cantar?
– Sim, mas tenho tempo de participar de um coro. Eu tenho minha vida bem organizada.
– Desculpe, mas se quer que tudo continue igual, quer dizer que não tem nenhum sonho? Nenhuma meta?
– Não! Já fiz tudo o que eu queria na vida. Entrei em uma empresa como estagiária, antes de terminar a faculdade, trabalhei lá toda a vida e me aposentei. Não quero nada novo, quero que minha vida continue como está.
– Parece que deixou de viver... – afirmou a professora.

Um dos alunos, um rapaz muito brincalhão, exclamou:
– Parece uma morta-vida!

E a namorada do rapaz começou a caminhar como um zumbi pela sala. Minha amiga ficou zangada e reclamou dizendo que quando eles envelhecerem, verão como é a vida realmente.
- Desculpe, senhora. - disse o rapaz - Idosos também têm sonhos. Veja o caso de dona
Claudina (a velhinha estava sorridente), ela quer conhecer as pirâmides do Egito. Para mim o problema não é que a senhora seja idosa. Para mim, o problema é que a senhora já morreu e ainda não sabe disso.

Eu fiquei impressionada porque esses jovens me apresentaram um retrato de minha amiga que eu não conhecia. Eu tentei falar com ela, mas ela não queria dialogar. Não queria mudar. Entendi que era o momento de afastar-me dela, pois precisamos de amigos vivos, com metas, com sonhos, com alegria. Pessoas capazes de dialogar e, se for preciso, de criar mudanças. Não importa aposentar-se de um trabalho, mas não podemos aposentar-nos dos sonhos, porque a vida é um constante aprendizado.

A VIDA É UMA VIAGEM. Não podemos ficar como barcos encalhados.



Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews.

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