O casal feliz, de mãos dados, abre a porta de vidro, entra no prédio e encontra dona Belinda, a idosa do primeiro andar, sentada numa poltrona da recepção olhando para fora, enquanto o porteiro lê o jornal. – Tudo bem?
– Felizes, dona Belinda, estamos grávidos.
A senhora Belinda olha um pouco confusa e retruca: – Quer dizer que você está grávida, Leonor?
– Não, isso é coisa antiga, agora é o casal que está grávido.
– Os dois estão grávidos? Homens também ficam grávidos? – pergunta dona Belinda com os olhos esbugalhados.
– Também! – Leonor exclama risonha e olha para o maridão com aquele rosto de “ele é o melhor do mundo, ele é um príncipe” que, geralmente, vai esmaecendo aos poucos e transformando-se num olhar mais parecido com “bem que minha mãe falou para não me casar com ele. Casei com um sapo”.
– E homem pode ter enjoo matinal? – pergunta dona Belinda levantando-se trabalhosamente da poltrona.
– Pode.
A velha pega a bengala, depois olha o casal, mexe a cabeça para os lados e com raiva murmura: – Então eu quero ver um homem morrer no parto.
* Isabel Furini – é escritora, consultora literária e palestrante –
Orienta a oficina Como Escrever Livros no Solar do Rosário
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