sábado, 9 de março de 2013

O poeta - o poetinha (Crônica)


Sempre tem um membro da família que é difícil de aturar, não é? Talvez tenha acontecido com você tentar ser simpático com esse elemento e acabar se dando mal. Vou iniciar pelo início, como convém a uma crônica. Há três ou quatro meses, recebi um e–mail do tio Sabrino. Para animá-lo, fiz um elogio a sua escrita. Foi um elogio breve. Eu não sabia que ia  causar tanta euforia!... No e-mail seguinte, confessou que nunca havia pensado que ele escrevia bem, mas que ficava grato com meu comentário.
            Tudo podia ter acabado por aí... mas não, eu tive a péssima ideia de ajudá–lo. O poeta  Juliano,  enviou–me um poema já traduzido para o espanhol a fim de que eu auxiliasse com a tradução de uma palavra. Só uma palavra. E foi aí que cometi o erro!.. Enviei para  tio Sabrino, que mora em Buenos Aires. Ele ficou feliz, não só corrigiu um verso, ele renovou o poema completo. Destruiu sistematicamente cada estrofe. Alguns acham que rimando bolinho com carrinho, já tem um grande poema. Esse era o  do tio.
            Dias depois, recebi um e-mail do tio com vários poemas, todos de péssimo gosto e uma carta onde agradecia ao Juliano. Corrigir esse poema o havia entusiasmado, havia despertado seu lado poético, que, sejamos honestos, era bem melhor quando estava dormindo.
            Então o tio Sabrino iniciou uma época de criatividade inigualável. Todos os dias enviava algum e-mail com novos poemas, até que eu decidi não responder. Ele ligou por telefone, eu falei que o computador estava com problemas. Ele leu seus poemas no telefone. Dias mais tarde recebi algumas cartas com novos poemas. Todos ruins... Decidi voltar à comunicação via e-mail. Eu  não queria ofender meu tio, mas... ele estava assassinando a Musa da poesia.  Semana passada minha tia ligou, queria que eu agradecesse ao Juliano. Meu tio nunca esteve tão feliz. Ser poeta   dera um novo sentido à sua vida, apesar do assassinato literário, claro...
            Eu não sabia o que dizer até que ontem... ontem mesmo, tio Sabrino ligou desde Buenos Aires. Foi para ler um conto. Feliz, disse que estava escrevendo crônicas e  pensando em  um romance. Escutei, com resignação, o conto insuportável que meu tio havia escrito.  Ah!.. Disse ele antes de desligar, agradeça  ao Juliano... O Juliano... era verdade, Juliano havia inspirado a onda de crimes literários, pois meu tio não era mais um simples assassino de uma Musa, ele se havia convertido em um serial killer.

Isabel Furini, escritora e palestrante, orienta oficinas no Solar do Rosário, Largo da Ordem, Curitiba. 

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