Sempre tem um membro da família
que é difícil de aturar, não é? Talvez tenha acontecido com você tentar ser
simpático com esse elemento e acabar se dando mal. Vou iniciar pelo início, como
convém a uma crônica. Há três ou quatro meses, recebi um e–mail do tio Sabrino.
Para animá-lo, fiz um elogio a sua escrita. Foi um elogio breve. Eu não sabia
que ia causar tanta euforia!... No
e-mail seguinte, confessou que nunca havia pensado que ele escrevia bem, mas
que ficava grato com meu comentário.
Tudo podia ter acabado por aí... mas
não, eu tive a péssima ideia de ajudá–lo. O poeta Juliano,
enviou–me um poema já traduzido para o espanhol a fim de que eu
auxiliasse com a tradução de uma palavra. Só uma palavra. E foi aí que cometi o
erro!.. Enviei para tio Sabrino, que
mora em Buenos
Aires. Ele ficou feliz, não só corrigiu um verso, ele renovou
o poema completo. Destruiu sistematicamente cada estrofe. Alguns acham que
rimando bolinho com carrinho, já tem um grande poema. Esse era o do tio.
Dias depois, recebi um e-mail do tio
com vários poemas, todos de péssimo gosto e uma carta onde agradecia ao
Juliano. Corrigir esse poema o havia entusiasmado, havia despertado seu lado
poético, que, sejamos honestos, era bem melhor quando estava dormindo.
Então o tio Sabrino iniciou uma
época de criatividade inigualável. Todos os dias enviava algum e-mail com novos
poemas, até que eu decidi não responder. Ele ligou por telefone, eu falei que o
computador estava com problemas. Ele leu seus poemas no telefone. Dias mais
tarde recebi algumas cartas com novos poemas. Todos ruins... Decidi voltar à
comunicação via e-mail. Eu não queria
ofender meu tio, mas... ele estava assassinando a Musa da poesia. Semana passada minha tia ligou, queria que eu
agradecesse ao Juliano. Meu tio nunca esteve tão feliz. Ser poeta dera um novo sentido à sua vida, apesar do
assassinato literário, claro...
Eu não sabia o que dizer até que
ontem... ontem mesmo, tio Sabrino ligou desde Buenos Aires. Foi para ler um
conto. Feliz, disse que estava escrevendo crônicas e pensando em
um romance. Escutei, com resignação, o conto insuportável que meu tio havia
escrito. Ah!.. Disse ele antes de
desligar, agradeça ao Juliano... O Juliano...
era verdade, Juliano havia inspirado a onda de crimes literários, pois meu tio
não era mais um simples assassino de uma Musa, ele se havia convertido em um serial killer.
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