Escritores! Todo mundo sabe que os
escritores gostam de reunir-se. Associações, academias, grupos de leitura,
seminários, debates. Mas, em pouco tempo,
descobrem que não suportam os colegas. Afinal, um ego de escritor já preenche
qualquer sala por maior que seja. Já muitos egos de escritores na mesma sala
tornam o local asfixiante. Alguns egos escorregam nas palavras dos outros. Os
outros chutam as costas dos egos que falaram. Os que não falam nada esperam o
momento oportuno para jogar o título de seu novo livro na cabeça de qualquer
escritor.
O título de seu novo livro na cabeça de
qualquer escritor? Perguntarão os que desconhecem a tribo dos escritores.
Poucas pessoas alheias a tribos sabem disso. Eu vou fazer uma revelação: os
títulos dos livros são seres vivos. Sim. Eles atraem e rejeitam. Jogados na
cabeça de um escritor inimigo machucam a subjetividade. O escritor atingido grita: Ai! Fui atingido
por um título desse escritor maluco! Socorro!
Socorro! Grita o escritor machucado, e
imediatamente é retirado da sala e considerado bipolar com mania de
perseguição.
Mania de perseguição é uma doença
traiçoeira. Disse a senhora de óculos. É verdade, disse o velhinho de paletó
cinza. Estamos reunidos para falar de nossos livros! Grita o homem de barba.
Imediatamente os egos crescem. Qual será o livro escolhido para a ocasião? Será
o livro novo livro de papel reciclado?
Papel reciclado? Papel é papel, grita o
escritor de camisa azul mexendo o celular. Todos olham para ele. Acanhado,
desliga o celular. Temos que fazer livros virtuais, exclama veementemente. E um
dos escritores, vestido de terno marrom, muito serio, apoia-o. O futuro é livro
na internet, e-book, livro virtual, o nome que vocês desejem. O nome não é
importante, o importante é... O homem de terno marrom se cala, olha todo mundo
e começa a tossir. Quase disse a verdade. E isso seria tão inconveniente.
Tão inconveniente é dizer a verdade que
há alguns meses um escritor fora banido da tribo por dizer a verdade. Dizer a
verdade! Ninguém merece! Teria gritado um jovem. A juventude está sempre
inovando, disse o escritor de terno marrom e blá, blá, blá. Não revelou que
defende o livro virtual porque acaba de criar uma editora virtual. Afinal,
livro é produto. E produto é para lucrar. Viva o lucro!
Viva o lucro! Pensa o escritor de terno
marrom e olha de ladinho para seu sócio, o homem de gravata vermelha. O homem
de gravata vermelha entende o recado. Levanta-se e começa um longo discurso
sobre as vantagens do livro virtual. Repete os argumentos. São poucos e precisa
repeti-los para fortalecer seu ponto de vista.
Seu ponto de vista parece-me excelente,
disse a senhora de blusa amarela. E
aplaude. Todos aplaudem. Entre escritores é comum aplaudir. Afinal, todos
gostam de receber aplausos, elogios. Bom, quase todos. Existem poucos
exemplares de uma raça em extinção que não gosta de aplausos. Isolados, raramente
são entrevistados pela mídia.
Raramente são entrevistados pela mídia.
Existe um problema maior que esse para um escritor? Afinal, o mais importante
não é escrever bem, mas ser um escritor de sucesso. Sucesso é tão bom. Todo
mundo sonha com o sucesso.
Sucesso! Sucesso quer dizer ser o
melhor escritor do mundo. E nunca
pergunte. Nunca. Qualquer escritor dirá que você está errado. E é aqui o ponto
central de minha história: Quando ao declamar um poema o velhinho de paletó
cinza caiu morto, os escritores aproximaram-se dele e escutaram as últimas
palavras do velho. Sou o melhor escritor
do mundo! Afastaram-se. Que ilusão!
disse a senhora de blusa amarela. O melhor escritor do mundo? E todos, em
silêncio, pensaram a mesma frase: O
melhor escritor do mundo sou eu!
Isabel Furini é escritora e poeta.
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