OS
SEIOS DE DONA RUPERTA
A
moradora do 7.º andar, muito faladeira, decidiu arriscar uma cirurgia
estética. Queria diminuir os seios. Poupou durante alguns meses, enquanto informava
a todos os vizinhos sobre sua decisão. Falava da cirurgia dos seios no
elevador, nos aniversários, nas reuniões de condomínio. Não tinha ninguém no
prédio que não soubesse que dona Ruperta
iria diminuir os seios.
Por fim
chegou a data esperada e dona Ruperta
foi, feliz, a “recuperar a esbeltez” segundo suas próprias palavras. Dias
depois estava sorridente sentada na recepção do prédio contando ao porteiro e a
qualquer vizinho que tivesse paciência para escutá-la, os detalhes da cirurgia
e mostrando como tinha ficado “outra, mais moça, mais elegante”.
Sandra
voltava de ministrar aulas, um pouco cansada. Sentou-se a lado da dona Ruperta
escutando, mais por educação que por interesse, sua conversa mole ...
De
repente, Carlinhos desceu as escadas, com um aviãozinho na mão. Movimentou o
aviãozinho, fingiu que estava voando, pulou os últimos três degraus, rolou no
chão. Depois levantou-se e sentou ao lado da Sandra, na recepção. Olhou para
Dona Ruperta que de pé diante do espelho permanecia admirando seu novo visual e
autoelogiando-se: “Minha figura mudou, estou muito mais jovem, mais magra....”
- Não importa quanto gastei... comentou
encarando a Sandra, meus seios ficaram
tão bonitos que valeu a pena.
Carlinhos
aproximou-se dela, olhando-a fixamente.
- É
verdade, dona Ruperta, agora ficou sem peito - afirmou o Carlinhos - mas que bunda, hein?
Isabel Furini é escritora e poeta premiada